Fazedores de trilhos

O diferente, fazemos-o para sermos comuns.

Tall in the saddle we spend Christmas Day
Driving the cattle over snow covered plains
All of the good gifts given today
Ours is the sky and the wide open range

Um cowboy de metal na neve. Crédito de Kevin Zollman

Nossas e diversas são as Minas e as Gerais, desde o quentor fotovoltaico no norte de São Romão, a friagem noite e dia do Planalto do Itatiaia. Ali nas margens do Campo Belo, o frio é verde musgo, capim baixo e pedra preta. Branco! Claridade absoluta em reflexo e treflexo de raios da carroça de Apolo é a friagem no raso das planícies doces nas barrancas do Missisipi e nas daqueles que neste vertem.

Presente em noite do nascimento de Nosso Senhor é a redenção que o próprio Cristo nos trouxe, mas na canção de John Denver abençoadas também o são as planícies cobertas de neve nas quais cavaleiros do oeste vaquejam por entre espíritos de búfalos ancestrais. E por que vaquejam?

O senhor que não liga a letra a seu significado por estar em idioma desconhecido, que ferramente pelo Google Translate. "Driving" que vem de "to drive" é verbo da ação que se faz com rês ou com veículo, o dirigir.
Boiadeiro muito tempo
Laço firme, braço forte
Muito gado e muita gente
Pela vida segurei
Em letra essa por composição daquele que som e tom deu a Matraga (1965) e Disparada (1966), à profissão de pastor de gado ajunta-se também "o segurar". Pois que o próprio Vandré alinha homem e animal e depois os desalinha mostrando o limite do que não se faz, na continuação dos versos que assustaram os primatas daquela (e dessa?) época:
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
....
Então não pude seguir
Valente lugar-tenente
De dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente
Que coisas se tem iguais para gado e gente, outras não. Posto que o dirigir, o segurar e o montar aceitamos no em comum. E por que gado e gente se conformam em serem tocados pelos trilhos escolhidos por boiadeiros e cowboys nas planícies brancas de neve e no sertão de troncos retorcidos das Gerais? Porque o objetivo do pensar é parar de pensar.

Quatro patas que têm o Angus de lá e o Zebu de cá, estrangeiras essas o são aos cheiros, gostos e tatos das terras pastoris. Brenhas essas de lá da posse de Búfalos e Bisões, de cá natividade de seres menores feito pacas e capivaras; que vivem nos seus trilhos e veredas ancestrais, acoçados por esse andar sempre no mesmo, constritos por linha darwinista que fez por perecer aqueles que no antes se aventuraram por fora e prole não geraram. No que se pareiam com os pioneers que não se desviaram de Independence, e dos bandeirantes que só beberam água do São Francisco, o do-Chico.

Trilhos de pastantes, estes sendo migrantes ou colonizantes. Trilhas. Linhas de caminhos seguros, que se formam no pisoar das raízes de capim e no pontear entre as sinapses da rede de modo padrão do cérebro. Trilhas do agir sem pensar, do repetir cognitivo que por efeito de ponto em ponto traz economia de energia para os ruminantes e para os bípedes. É o trilho que poupa a rês de por si própria testar caminhos diversos, desperdiçar tempo e energia preciosos na planície nevada. Arriscar-se no bisolhar de caminhos perigosos, a tal evolução dos trilhos-espécies. 

Acá, é a trilha de sinapses do modo padrão que poupa tempo e energia da mente de nós sábios, direcionando sentidos entrantes por sobre piscadas de passos passados. Darwin e sua teoria quando aplicados sobre estas trilhas neurais, fazem por perecer sem linhagem sucedente aqueles que desperdiçam a preciosa energia do corpo, no alto consumo da função cognitiva.

Para o homem, o objetivo de pensar é parar de pensar; assim como para a rês, o objetivo de aventurar-se é parar de aventurar-se por caminhos não trilhados. Tão que por isso os cowboys dirigem o gado, previsto que a neve nas planícies soterra rastros de cascos; e rês que se aventura e perece, tanto ensina a manada quanto rês que se aventura e sucede. Darwin não faz evolução dos trilhos e trilhas quando os treflexos de raios de sol cegam a percepção das piscadas alinhadas na rede de modo padrão, passos que só terminam em aniquilação.

Assim hão de haver sempre boiadeiros, de gado e gente. Tocadores de berrante sozinhos nas noites de natal, mostrando o caminho na falta de piscadas passadas, congeladas pela neve, secas pelo sertão ou embaralhadas na complexidade da sociedade moderna.



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