Bandoleiros à procura de pingos de ouro nas noites escuras de terror

Sapinho-pingo-de-ouro, como ficastes oculto por tanto tempo? Pois que oculto em partes, não visto por certos espectros, enquanto bem notado por outros. Não visto pelos catálogos de biólogos, que só lhe determinaram nova espécie neste segundo ano da peste, às margens da maior selva de pedra do hemisfério sul.

Pasmo! Como não o notaram antes? Tocado o foi por índios, colonizadores e brasileiros que não lhe deram muita diferenciação, sem importância o tomaram. No que se diferencia, somente olhos atentos e equipamentos de raios DNA poderiam mesmo enxergar: placas ósseas irregulares e genes diferenciados. É uma nova espécie, que vive por debaixo das folhas da mata atlântica paulistana, da metrópoles. 

E sapo é o quê? Nem só da terra, nem só da água. Nem do mar e correntes de rio; nem das areais e dos meios. Serzinho das bordas que estes separam. Brejos e lagoas com barrancas de argila. Folhagens cheias de água que a pele hidrata, nunca afogado no líquido ou longe demais deste.

Pensando nas bordas entendo como tu se escondestes, sapinho. Humanos são limitados na sua percepção do mundo. Mesmo que olhos de águia venhamos a adquirir, nossa regulagem de contraste ainda seria influenciada pelos padrões mentais que formamos desde tempos infantis. Vê quem vê com a mente, olhos por si só não vêem, só captam. 

Bordas de vivência têm me incomodado. Limites mais difíceis de serem enxergados do que o espaço que separa genes de sapos e sapinhos uns dos outros. Porque genes, apesar de minúsculos, determinam-se distintos sobre a lente do microscópio e espectrômetros de outros comprimentos de onda. 

O que seria de Charles Darwin se além de bicos de aves das Galápagos, tivesse que determinar o que pensa cada passarinho sobre os mares e penhascos que as rodeiam? Teoria sua trataria então da evolução dos indivíduos, não das espécies, tamanha seria a diferenciação entre os pensamentos de cada par de asas que não formariam bando, quem dirá especie.

Quantas bordas existem entre os pensamentos de um e outro indivíduo da mesma espécie? Quantas discrepâncias de baixo contraste permeiam o próprio interno da mente de cada um? Quão difícil é ver, diferenciar e catalogar os infinitos diferenciais mínimos dos sete bilhões de mentes humanas que habitam esta Terra?

Biólogos que escrevem compêndios legislativos, Vade Mecuns. Ali na letrinha da lei tentando antever o impossível, a punir em códigos civis e penais tudo aquilo que de mau o ser homem pode fazer. Acham-se deuses? Pobres, alheios estão em relação a própria impotência frente as bordas escuras do pensamento humano, nas noites escuras de terror.

O devido processo legal, tão dito, lento que o é por obrigação de amplo e anti-contraste não o ser. Espada de lei por demais larga e afiada, acaba por si própria cortinar noites escuras de terror.

Na cinzenta borda de sombras riscadas por traços de luz, do agir humano, certas coisas não se contém na lei ou na liberdade!

A luz que separa o bom do mau e o feio do bonito, não pode ser acesa por anjos de pura decência ou demônios de pura vilania. Um que se proponha por essas bordas caminhar e lutar, o fará ao som de Enio Morricone na estrada para Sad Hill.

Cemitério de Sad Hill, destino final de todos aqueles que concordarem com este texto



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